Prestes a estrear no Brasil e traduzido pela primeira opção como “Raça’ em detrimento da opção” Corrida”, a primeira cine-bio de Jesse Owens (atleta negro conquistador de 4 medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlim / 1936, afrontando a supremacia Ariana), é uma reconstrução de época bastante significativa. Ainda que o roteiro possa ser controverso aos olhos de historiadores, (Hitler teria entregue as medalhas), e que uma biografia possa arrefecer a tensão dramática em função de conhecermos o final, “Race” traça um panorama sócio-político de época que merece, ao mesmo tempo, respeito, revolta e lamentos e muitas reflexões. Fazendo de forma interessante um paralelo entre a situação humilhante e discriminatória dos afro-americanos e dos judeus na Alemanha, explora a questão esporte x política de então, a conturbada decisão do Comitê Olímpico americano em apoiar ou não os jogos, as reações da sociedade e das entidades de classe além dos interesses comerciais envolvidos na decisão. Ao não vitimizar além da conta o protagonista, o roteiro escapa do melodrama racista e, ainda que deixe bem claro os abjetos obstáculos que a cor da pele impunha aos negros na América branca, oferece uma produção digna do tema com figurinos, trilha e tomadas respeitáveis. Com atuações bem convincentes, “Corrida” não pretende mergulhar muito fundo na alma do lendário protagonista, optando acertadamente por um tom documental que, ao excluir a pegada emocional, se apega com força no momento histórico como um documento que deve não apenas ser visto e saboreado pelos cinéfilos, bem como uma fragrante denúncia sobre a estupidez humana que ainda insiste em segregar humanos por conta de cor e religião.
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