Desde sempre, o cinema nórdico trilhou caminhos que focavam dramas humanos intensos, claustrofóbicos, (desde Bergman), sempre permeados por frio externo e interno e muito poucos personagens nas narrativas. Talvez porque seja um cinema que reflita o panorama climático em que se ambienta, o que propicia que os dramas interiores acompanhem o universo geográfico no qual se inserem. Por certo, após os anos dois mil, algumas inovações e derivações surgiram buscando afastarem-se deste modelo tradicional e inúmeros ótimos exemplos disso aconteceram. Não é o caso de “#Hrútar” que, intencionalmente, retoma o formato tradicional, apostando todas as fichas da produção na característica principal deste tipo de cinema: O isolamento; geográfico e humano. Assim, o candidato da Islândia ao Oscar 2016 e vencedor do “Un Certain Regard do Festival de Cannes 2015, torna-se um trabalho apenas para apreciadores do gênero, mas que não quer dizer, em hipótese alguma, que não seja algo respeitável por seu conjunto fílmico. Com um plot mínimo, elenco reduzido e diálogos enxutos ao máximo, o roteiro transita e segue por questões humanas complexas como a busca pelo sentido da vida em uma região inóspita. A fotografia pálida reforça a estética minimalista enquanto a narrativa evolui de uma pegada de realismo extremo com forte cunho psicológico para leves momentos de descontração (a cena de levar um paciente para um hospital é inédita em todo o cinema), e ousa brincar com o surreal, mas sempre envolto com a atmosfera de tristeza e melancolia generalizada. Trazer a criação de ovelhas para o epicentro da trama, para nós, pode parecer irreal, mas não o é em um país onde, segundo o protagonista, é habitado por 320.000 humanos, mas possui um rebanho próximo de 800.000 cabeças. Sendo a ovelha o símbolo nacional da Islândia, nada mais inteligente que tê-las como pano de fundo e mote de uma proposta narrativa muito original. “#Rams”, que aposta na simplicidade documental e nos simbolismos, é um ótimo estudo de personagens, é singular na proposta e conclui com último ato gélido, tocante e surpreendente.
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