Com muita curiosidade e certa dose de receio, fomos conferir o vencedor do Oscar 2016. Nosso receio ficava por conta do tema já ser largamente explorado por obras anteriores e tão...definitivas. Holocausto? Novamente? Tudo já foi dito, não pode ser bom! Mas é, e é muito! Também é a prova cabal que um diretor muito talentoso, com uma boa e simples ideia na cabeça (um plot mínimo), pode construir uma obra prima e ainda arrematá-la com um toque de poesia. Impressionante! Diferente de tudo no gênero, não há heróis, atos de bravura e nem tão pouco grandes ações pirotécnicas e nem mesmo a chatice dos efeitos especiais. “O Filho de Saul” é cru e contundente ainda que o bom gosto estético evite toda e qualquer cena desagradável aos olhos. É claro que o contexto é recheado delas e seria impossível tocar no tema sem passar por elas e eis o grande lance da direção; deixá-las por conta da imaginação do expectador. Grande parte deste feito fica por conta do posicionamento da câmera em closes sobre o personagem principal, de tal forma que, não só vemos o que ele vê, mas sentimos o que ele sente e somos, irremediavelmente, arrastados com ele em sua trajetória poupados de cenas mais “chocantes” pelos geniais e oportunos desfocamentos que, magistralmente também são a forma com que ele enxerga sua realidade. Desfocada. Outra genialidade presente no longa está na perfeita concentração e imersão do drama vivido pelo personagem, deixando como pano de fundo o cenário onde ele se desenrola. Os horrores que acontecem no plano aberto, nunca, em momento algum, são maiores, mais claros ou mais focados que o mergulho profundo na alma do protagonista. E que interpretação! Que aula de introjeção artística! É praticamente impossível não ver tudo, não sentir tudo não se comprometer emocionalmente com cada mínimo olhar; cada pensamento, cada angústia não verbalizada. Tecnicamente irrepreensível, (em todos os quesitos), com uma fotografia em amarelo ocre e matizes de cinza belíssima, “O Filho de Saul” conduz sua tensa e concreta narrativa por caminhos que passam sutilmente pelos devaneios provocados pela loucura, sem abrir mão de uma plástica inovadora que comete ainda a ousadia de desaguar no lirismo verde e poético da esperança; no final. Magnífico!
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