Partindo de um plot interessantíssimo que está mais para uma análise sobre como vivem as famílias Sérvias que permanecem no Kosovo, este pré-candidato pela Sérvia a melhor filme ao Oscar 2016, prima por transferir toda a problemática sócio-política para olhos infantis. Muito interessante! Com uma narrativa que transita e insiste no tema amizade (em terreno belicoso demais para ela), Enklava acerta em cheio no foco dos núcleos familiares, estudantis e religiosos, centrando na perda da inocência na infância e na luta por mantê-la através de brincadeiras inocentes. Como seria a vida de um menino de 10 anos que quer apenas “brincar” sabendo que seus vizinhos o olham com desconfiança e quase ódio? Até onde o ódio sócio-político dos adultos, as discrepâncias religiosas podem ou vão interferir na interação e nos jogos lúdicos das crianças? Explorando um terreno delicado, real e infelizmente atual, esse retrato sobre relações humanas tem uma belíssima fotografia, ótima trilha sonora, interpretações contundentes (principalmente no núcleo infantil), prima pela originalidade e simplicidade do roteiro, mostrando que é perfeitamente possível fazer um cinema de alta qualidade sem recursos pirotécnicos. Estariam as crianças imunes as desavenças étnicas dos adultos ou também contaminadas por elas? A esperança por um mundo mais igualitário estaria nas mãos das crianças? Como ninguém tem tal resposta, a direção inteligentemente optou por apenas levantar o tema de forma neutra e sem partidarismo, o que só aumenta a relevância deste trabalho. Pelas questões importantíssimas e pela forma de abordagem, Enclave é um desses filmes simples e respeitável que merece não só uma análise mais profunda como provoca e traz à baila inúmeras reflexões sobre a força da amizade. Parabéns, Sérvia!
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