Este indicado pela França ao Oscar 2016 de melhor filme estrangeiro, é um trabalho curioso em muitos aspectos. Com toda trama centrada em uma aldeia na Turquia, falado em turco, tratando essencialmente de questões sócio-culturais Turcas, pode parecer algo muito importante ou nada relevante para nós ocidentais. E, este é um dos pontos mais interessantes, pois consegue através de um roteiro temático nada inovador, obter e transmitir seu charme peculiar. Centenas de trabalhos já exploraram, cada um a sua maneira, o veio “costumes ancestrais versus liberdade”, mas a graça nessa proposta ampara-se e distingue-se por centrá-la na ótica infantil de uma personagem criança com um desempenho interpretativo de uma atriz mirim talentosíssima. Este é o fulcro. Tecnicamente não vimos nada de excepcional...direção, fotografia, edição, trilha, tudo permanece no terreno do comum e, em muitos momentos, a câmera na mão que traz um tom verossímil para algumas cenas, também colabora com um aparente amadorismo intencional. Então, se “Mustang” nos apresenta tantos elementos conceituais conhecidos e até mesmo batidos sobre a opressão das mulheres no oriente, onde buscar seu diferencial? No elenco jovem ? Não! O tema já foi tratado por essa ótica também. Na inconformidade e rebeldia as crenças ortodoxas? Não! Isto também já foi mostrado largamente. Então, onde? É bem possível encontrar méritos na inevitável empatia que causa com seu tratamento delicado, na aposta certeira na ingenuidade x curiosidade, na forma sensível que um tema cruel é trabalhado, no paradoxo entre prisão e o inviolável e, principalmente, por ser um filme certo na hora certa e no lugar certo. Se fosse algo “made in Hollywood”, certamente seu final em aberto geraria uma franquia interminável, mas não se enganem, as cinco graças são: A beleza, a espontaneidade, o carisma, a força e o talento da jovem atriz Gunes Nezihe Sensov. O mais não é novidade.
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