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Foto do escritorCardoso Júnior

Boulevard- EUA-2105

Atualizado: 15 de ago. de 2020


Para nós foi difícil assistir com isenção d’alma o último trabalho de Robin Williams no grande ecrã pela flagrante similaridade do personagem angustiado, com a realidade dos últimos momentos de vida do ator. A dissociação analítica fica bastante comprometida com velho chavão de que a arte imita a vida e ou vice-versa... Partindo da premissa de que “ Nunca é tarde demais para começar a viver a vida que você realmente quer", o roteiro deste drama indie não apresenta nenhuma grande (nem pequena), inovação no tema, mas é um primor de bem realizado em cada frame. Ambientações claustrofóbicas e opressoras, iluminação difusa e trilha dolorida, condizem e compactuam com a narrativa concentrada no universo interno e conturbado do personagem de Williams (Nolam), e seu duelo entre a manutenção da mentira de uma vida inteira e a libertação dela. Três perguntas nos ficam diante da questão: Ele conseguirá? Qual o preço a ser pago? Quantas pessoas serão feridas para que ele consiga tamponar a sua? No mais, é impossível não sentir empatia com o sofrimento/ depressão deste personagem contido pela extrema amargura causada por sua própria covardia e, torcer para que, de alguma forma, ela termine logo. Ainda que o tema casamento de conveniência e monotonia conjugal compartilhada seja universal e atual, (melhor abordado no ótimo “Far from Heaven” 2002), aqui são as gritantes e silenciosas camadas de expressões de Williams e sua “atrofia” corporal que fascinam. A discussão sobre relação entre sexualidade e felicidade tendo como contraponto a atuação de Kathy Baker, ao pé de uma escada, é sem dúvida um dos grandes momentos deste drama. Dói! O que nos salta aos olhos é que, embora o personagem seja de uma ternura infinda, o roteiro poupa-o da vitimização, vestindo-o com todas as inseguranças e medos que permeiam o ser humano. Embora a estória não seja exatamente inspiradora, é na carga dramática que repousa toda força de "Boulevard" e, no fim, o que nos fica é a pergunta: Estamos diante de um ator no exercício pleno do De profundis do personagem, ou de um homem que externou com facilidade sua própria e incomensurável amargura? Como jamais saberemos, vale muito, muito mesmo apreciar este ápice de interpretação.

TRAILER

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