Comparar versões de obras literárias para o Cinema, é tarefa árdua porém altamente estimulante e este foi nosso caso com “Longe desse insensato mundo”; um raro prazer e uma autêntica viagem no tempo e na 7ª arte. O que mais nos impressionou foi a questão técnica. É impressionante como, há 48 anos, fazia-se cinema com tamanho apuro técnico sem os recursos dos tempos modernos. Podemos afirmar que em nada fica devendo a versão moderna, muito pelo contrário, até a supera em muito. Direção, fotografia, direção de arte, figurino e enquadramentos de cenas reais, com locações reais, são um deslumbre para os olhos. Cada frame pode ser visto e é, obra de arte contemplativa, seqüência de quadros de raríssima, plácida, detalhista e indescritível beleza.
A cena da tempestade, é realizada com tamanha verossimilhança que chega a tornar simplista demais a da versão 2015.
No entanto, há que se admitir que, um clássico de tamanha envergadura com duas horas e cinqüenta minutos, com direito a intervalo, pertenceu a um tempo menos frenético onde as plateias extasiavam-se em contemplação em detrimento de ação. Não funcionaria no tempo fílmico ansioso do dito cinema moderno, “pá-pum-bum-pluft”. Uma pena. Quanto aos atores e interpretações, também em nada fica devendo a versão atual; equipara-se se não a supera no arco ampliado de consistência emocional dos personagens. Comparando a direção de atores versus composição de personagens, podemos notar a fidelidade da versão para obra original, menos na protagonista.
A belíssima Julie Christie preferiu compor a “heroína” como uma mulher mais...frágil, mais vaidosa e insegura enquanto, Carey Mulligan optou por fazê-la forte, voluntariosa, destemida e obstinada. A primeira, torna-se vítima indefesa do destino enquanto a segunda é autora dele. Mulligan é imbatível nessa composição, desculpe Julie.
Alan Bates, tem um papel menor e mais rude que o "doce" Matthias Schoenaerts enquanto, Peter Finch é privilegiado pelos closes nos quais suas emoções se tornam palpáveis comparado com Michael Sheen e, Prunella Ransome (vencedora do globo de ouro), é evidentemente mais profunda que Juno Temple. Mas, o grande diferencial entre as duas obras é Terence Stamp, com muito mais cenas que lhe permitem um maior mergulho cênico que Tom Sturridge, o odiável vilão Sargento Troy. Por fim desta análise, Far From The Madding Crowd, 1967, é um outro filme que apenas conta a mesma estória da versão de 2015, mais rico nos detalhes, mais cinematográfico e impossível de ser devidamente apreciado a menos que estejamos Longe deste insensato mundo.
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